Expansão internacional: quais são os principais riscos jurídicos e como evitá-los

Tablet mostrando um mapa

A expansão internacional representa um marco no crescimento e consolidação de qualquer empresa. No entanto, navegar pelas complexidades jurídicas de diferentes países pode ser uma jornada repleta de desafios inesperados. 

O cenário regulatório global tornou-se mais rigoroso e dinâmico, especialmente com a implementação de novas leis de proteção de dados, regulamentações sobre plataformas digitais e mudanças nas normas tributárias internacionais. Para empresas tecnológicas, esses fatores amplificam tanto as oportunidades quanto os riscos jurídicos da expansão.

A preparação jurídica adequada é uma estratégia fundamental para garantir o sucesso e a sustentabilidade da operação internacional. 

Dessa forma, neste artigo do Blog da GD Law vamos entender quais são os principias riscos jurídicos que a expansão internacional pode trazer e de forma a sua empresa pode se proteger.

Estrutura societária e constituição de empresas

A escolha da estrutura societária adequada é uma das primeiras e mais críticas decisões na expansão internacional. Isso porque cada país possui exigências distintas para registro, funcionamento e responsabilidade legal da entidade, influenciando diretamente custos operacionais, carga tributária e exposição aos riscos jurídicos.

Uma startup de tecnologia financeira que pretende atuar na Europa precisa decidir se estabelecerá uma subsidiária local, operará através de filiais ou utilizará distribuidores. Cada opção tem implicações diferentes em termos de responsabilidade civil, requisitos de capital mínimo e obrigações regulatórias específicas do setor financeiro.

O direito corporativo internacional exige análise cuidadosa não apenas dos custos iniciais de estabelecimento, mas também das implicações de longo prazo em termos de flexibilidade operacional, tributação e facilidade de expansão para outros mercados.

Compliance regulatório e controles de exportação

As regulamentações de exportação e importação variam drasticamente entre países e podem incluir restrições específicas sobre tecnologias de “uso dual” que exigem autorizações especiais. 

Para empresas de tecnologia, isso é particularmente relevante quando se trata de software, algoritmos de criptografia ou tecnologias que podem ter aplicações tanto civis quanto militares.

As normas de direito internacional estabelecem que empresas devem cumprir não apenas as leis do país de origem, mas também todas as regulamentações dos países onde pretendem operar. Isso inclui licenciamentos específicos, autorizações de órgãos reguladores e conformidade com acordos comerciais internacionais.

Proteção de propriedade intelectual internacional

Um dos equívocos mais comuns é assumir que o registro de marcas e patentes no Brasil automaticamente protege a empresa em outros países. O registro de propriedade intelectual deve ser realizado em cada país onde há interesse comercial, utilizando tratados internacionais como o Protocolo de Madri para marcas e o PCT para patentes.

Uma startup brasileira de e-commerce que expandiu para a Argentina sem registrar sua marca localmente descobriu que um concorrente havia registrado uma marca similar, impedindo sua operação no país. 

Esse caso ilustra como a negligência na proteção de ativos intangíveis pode inviabilizar completamente uma expansão internacional.

Contratos transfronteiriços e resolução de disputas

Contratos internacionais devem definir claramente a lei aplicável e o foro de resolução de disputas para evitar insegurança jurídica. 

O direito corporativo internacional recomenda elementos essenciais que incluem escolha da lei aplicável, jurisdição competente, cláusulas de arbitragem para resolução mais rápida e confidencial, além de proteção específica de propriedade intelectual em contratos de tecnologia.

A arbitragem internacional tem se tornado preferencial para empresas de tecnologia por oferecer procedimentos mais ágeis e especializados, especialmente em disputas que envolvem propriedade intelectual e transferência de tecnologia.

Exigências específicas por região

União Europeia: Novas regulamentações em vigor

A União Europeia implementou mudanças significativas que afetam empresas estrangeiras. A Diretiva (UE) 2022/2523 estabelece um nível mínimo mundial de tributação para grupos multinacionais, impactando decisões de estrutura societária e planejamento fiscal.

Simultaneamente, o Digital Services Act (DSA) e Digital Markets Act (DMA) introduziram novas regras sobre conteúdo, transparência e concorrência nas plataformas digitais que afetam empresas de tecnologia que operam no mercado europeu, independentemente de sua localização física.

Estados Unidos: Complexidade federal e estadual

O sistema jurídico americano apresenta desafios únicos devido à sobreposição de leis federais e estaduais. Califórnia, por sua vez, possui o CCPA (California Consumer Privacy Act), que impõe obrigações específicas sobre proteção de dados que podem ser mais restritivas que a legislação federal.

Brasil e outros mercados emergentes

O Brasil implementou recentemente novas regulamentações da ANPD sobre transferências internacionais de dados, exigindo requisitos formais detalhados para empresas que transferem dados pessoais para outros países.

Proteção de dados: LGPD, GDPR e outras legislações

A proteção de dados tornou-se uma das áreas mais complexas para empresas em expansão internacional. As diferenças entre LGPD e GDPR são significativas e requerem adequações específicas para cada jurisdição.

As bases legais para tratamento diferem substancialmente: a LGPD estabelece 10 bases legais incluindo proteção ao crédito, enquanto o GDPR trabalha com 6 bases legais com maior ênfase no consentimento explícito. 

A definição de dados sensíveis também varia – a LGPD inclui informações biométricas e genéticas, enquanto o GDPR foca em origem étnica, crenças religiosas e opiniões políticas.

As multas e punições apresentam diferenças significativas: a LGPD permite multas de até 2% do faturamento anual no Brasil limitado a R$ 50 milhões, enquanto o GDPR pode aplicar multas de até 4% do faturamento global anual ou €20 milhões, prevalecendo o maior valor.

Tanto LGPD quanto GDPR exigem que transferências internacionais garantam proteção equivalente, mas com procedimentos e critérios diferentes. Implementar soluções que atendam aos requisitos mais rigorosos facilita a conformidade multi-jurisdicional.

Direitos humanos e sustentabilidade: A nova fronteira legal

Uma tendência emergente em 2024 são as legislações que obrigam empresas a exercer devida diligência sobre violações de direitos humanos e danos ambientais em suas cadeias produtivas. 

França, Alemanha e a UE como um todo têm implementado normas que afetam também empresas não europeias que atuam nesses mercados.

Essas regulamentações representam uma expansão significativa do conceito tradicional de compliance, exigindo que empresas monitorem e reportem impactos sociais e ambientais de toda sua cadeia de valor, incluindo fornecedores e parceiros comerciais em diferentes países.

Estratégias práticas para mitigar riscos jurídicos

Due diligence regulatória prévia

Antes de entrar em qualquer mercado, empresas devem realizar uma análise abrangente das exigências legais locais, incluindo requisitos de licenciamento e autorização, normas trabalhistas específicas, regulamentações setoriais e obrigações fiscais e tributárias.

Estruturação jurídica internacional

A estruturação adequada deve considerar flexibilidade operacional para facilitar expansão para outros mercados, otimização fiscal através do aproveitamento de tratados internacionais, proteção patrimonial com separação de riscos entre jurisdições e compliance simplificado para redução da complexidade administrativa.

Contratos padronizados com cláusulas internacionais

O desenvolvimento de modelos contratuais deve incluir cláusulas de arbitragem internacional, definição clara de propriedade intelectual, termos de confidencialidade adequados a múltiplas jurisdições e proteção contra mudanças regulatórias.

Programa global de compliance

Um programa efetivo deve abranger monitoramento regulatório contínuo, treinamento das equipes sobre normas locais, auditoria periódica de conformidade e procedimentos estruturados para resposta a incidentes.

Transformando complexidade em vantagem competitiva

As exigências legais continuam evoluindo rapidamente, especialmente em áreas como proteção de dados, tributação internacional e regulamentação de tecnologias emergentes.

Nesse contexto, o investimento em assessoria jurídica especializada não é um custo, mas sim um investimento estratégico que pode determinar o sucesso ou fracasso da expansão internacional. 

A complexidade do cenário regulatório global exige parceiros que compreendam tanto as nuances locais quanto às implicações internacionais de cada decisão.

O direito internacional moderno requer adaptação constante às mudanças regulatórias, especialmente em setores de alta tecnologia onde a inovação frequentemente supera o desenvolvimento de marcos regulatórios. 

Empresas que antecipam essas mudanças e estruturam operações flexíveis conseguem transformar desafios regulatórios em vantagens competitivas significativas.

Compromisso com o futuro das empresas, das pessoas e do Brasil.

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